quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Porque meu coração é como um oceano

Estava andando à tarde pelos trilhos de trem abandonados, me equilibrando como fazem as crianças no meio-fio... Quando o tempo fechou e a chuva começou a cair. Não parei, já estava encharcada mesmo, e não queria ter de voltar... Os pingos que tocavam minha pele me deixavam aliviada, afinal, eu não estava morta... E com a água tocando meu corpo eu tinha certeza disso.

Tudo, de repente, ficou em preto e branco a minha volta e em câmera lenta. As gotas da chuva caiam bem lentamente... Como se tivessem apertado um botão no controle remoto que fizesse o filme ir devagar.

Andando pelos trilhos molhados, reparei, tardiamente, que tudo voltara ao normal e que a chuva já havia parado. Percebi que estava sozinha há muito tempo, em um outro lugar onde não tinha ninguém além de mim e meus pensamentos. Quando vi que, se gritasse, ninguém apareceria, fiquei tão frustrada...

Acho que estava dentro da minha própria cabeça, onde não importa o quanto eu grite... Só enlouqueço cada vez mais. O medo e a angustia não doem mais apenas no peito e eu não sei pra onde correr, porque mesmo quando tudo parece bem, algo me fere como uma adaga no coração, como se eu nunca pudesse ficar plena.

Não sei por que não estou em um mergulho em pleno oceano... Pois sinto uma pressão me esmagando por dentro e um medo de que em qualquer momento uma criatura pode vir e me estraçalhar... Ou que eu possa morrer sem ar. Mas acho que esse vazio dos trilhos é pior... É, realmente é pior...

Eu nem deveria estar assim aqui dentro, sei que não estou sozinha...


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Liberdade

Em meu cavalo negro como a noite, eu cavalgo dentre a floresta procurando por algo. As árvores passam como um borrão sob a luz da Lua e eu não consigo pensar em mais nada a não ser me sentir livre. Como se algo me chamasse em algum lugar, me sinto como se tivesse de chegar lá... Sem saber meu destino.
Ouço violinos em meus pensamentos, ouço flautas, ouço pássaros acompanhando uma melodia que só as flores estavam destinadas a ouvir. O vento em meu rosto logo deixa de ser meu único sinal de que estou viva e a chuva começa a cair com intensidade... Gotas pratiadas com o luar caem sobre minha pele enquanto ponho minha capa roxa e a amarro no pescoço.
Fico mais próxima que posso do meu cavalo, sentindo o pelo dele no meu corpo, como se as vontades dele de correr fossem como as minhas, como se fossemos apenas uma criatura... Querendo ser livre, correr na chuva, ouvir as melodias de uma floresta em uma noite de luar.
Escuto vozes sussurrarem nos meus ouvidos... Vozes que me deixam com um aperto no coração, vozes que estão tão intensas quanto à chuva. Lágrimas caem do meu rosto e sinto-as quentes... Contrastando com a chuva gelada em minha pele. Seguro meu cavalo mais forte ainda... Como se o abraçasse, e eu precisava desse abraço.
Em poucos minutos me vejo fora da floresta, em meio a um campo aberto, cheio de dentes-de-leão, centaureas, glicínias, gencianas e damas da noite perfumando o lugar... A chuva havia parado e senti o sol nascendo no horizonte a minha frente.