sexta-feira, 13 de julho de 2012

A escola: Segredos demais...



Eu sabia que não podia passar por aquele caminho... Metade dessa escola não pertencia a nós. A parte proibida era frequentada por criaturas que só víamos de longe e ouvíamos falar. Para mim, pareciam humanos comuns...
A divisão era clara até aos olhos. Tínhamos um diretor e um vice para cada lado. Algumas histórias falavam sobre as poucas pessoas que quebraram a maior regra da instituição e atravessaram o limite... Histórias onde não se há nomes, que são passadas de boca em boca a cada nova turma que entra aqui. Eu estou nessa escola já faz quatro anos e não conheci nenhum humano que tivesse ultrapassado a barreira. Mas lembro que no começo do segundo ano um garoto do outro lado veio pra cá durante a noite. Ninguém sabe o por quê e nem o que aconteceu, pelo menos não na nossa parte da escola... Não posso responder pelo lado de lá. Só o que se sabe é que esse garoto nunca mais foi visto na escola.
Íamos pra casa nas férias. Todos adoravam esse período com os pais depois de tempos rígidos e estudos puxados. Eu passava esse tempo com meus tios... Não conheci meus pais e o pouco que um dia meus tios me disseram foi que morreram num acidente muito grave quando eu era bem pequena e minha tia me trouxe até sua casa. Eles me criaram e cuidam de mim desde então. Às vezes paro para pensar se foi isso mesmo. Sempre sinto como se me escondessem algo.
Depois das aulas de francês e ética, era hora de ir para os dormitórios naquele dia. O pôr-do-sol pintava o céu de um alaranjado sóbrio e nostálgico, igual a muitas noites nesse lugar. Essa escola era muito antiga, com normas anciãs... Tudo aqui intimidava sem menor esforço qualquer aluno. Pairava por todo o lugar um ar um pouco sombrio que eu sempre acreditei ser culpa apenas das “pessoas” do outro lado. E também porque segredos demais sempre contagiam nossas sensações...
 O sinal tocou. Ninguém gostava daquele som, afinal, ele ditava outra das regras principais daqui: o toque de recolher. O barulho ecoava um pouco depois que ele parava, mas era um sinal comum... E depois de um tempo todos se acostumam com essa regra sem mais questionamentos. Fui para minha cama, na parte de cima do beliche. Fiquei deitada, olhando para o teto, pensando sobre como seria o próximo dia. Seria, finalmente, o começo das nossas tão merecidas férias... Se isso não tivesse acontecido...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fim do mundo...


Me vi com uma bolsa não muito grande, que era do tamanho que eu aguentaria carregar depois de cheia. Não sabia ao certo do que eu precisaria ou do que eu sentiria falta... A idéia de perda e a culpa por não ter salvado um ou outro objeto era realmente desagradável, apesar de que ninguém sabia o que iria acontecer daqui pra frente.

Corri para o meu quarto com pressa e desesperada, e coloquei na bolsa meu cãozinho de pelúcia... Ele e tinha certeza que se não salvasse não ficaria em paz. Uma roupa confortável e uma roupa das que eu mais gosto, mas nada fora do discreto... Peguei a mais neutra possível pra ser sincera.

Passaram-se apenas dois minutos, pena eu lembrar a cada milésimo que todo o tempo era indiscutivelmente importante. Pensei, apressada por dentro, em o que mais precisaria pegar. Depois que coloquei objetos pessoais completamente inúteis na bolsa, me dei conta que estava sendo o cúmulo do egoísmo... Percebi que depois da notícia, me esqueci das pessoas à minha volta e não peguei nada que fosse útil à minha família, como comida e bebida e coisas básicas para permanecermos vivos.

Sai do meu quarto e corri para o quarto dos meus avós, mas eles não estavam em lugar algum... Desesperada, fui correndo para o quarto da minha mãe e lá estava ela e meu irmão mais novo arrumando uma mala de viagens com roupas e cobertores. Perguntei sem pensar nem uma vez onde estavam meus avós... Ela falou que eles foram para a casa dos meus bisavós e que eles não arrumariam nada. Eles se conformaram em não sobreviver... Não queriam sofrer ainda mais, só queriam estar juntos quando tudo acontecesse.

Comecei a chorar junto com a minha mãe que já estava chorando... Meu irmãozinho não entendia quase nada do que estava acontecendo, ele é pequeno demais pra isso. A pergunta seguinte veio composta por soluços... Na realidade, não foi uma pergunta, soou como “Mãe... Você não vai conseguir carregar essa mala e meu irmão”... Ela respondeu falando que não tinha muita escolha e eu decidi por minha bolsa na mala e pegar coisas de valor sentimental da minha mãe e coisas que eu sabia que meu irmão gosta.

Cheia e pesada... Mas eu não reclamei da mala mesmo com muita dor nas costas. Minha mãe pegou meu irmão no colo e ambas corremos até o portão de casa. Até eu que não sou de rezar, que perdi minha fé durante os anos, estava suficientemente desesperada a ponto de rezar e implorar que nada acontecesse a minha família.

A rua estava um caos... Pessoas tão desesperadas quanto nós correndo para conseguir um lugar para ir aos abrigos que o governo montou. Minha visão não era ampla, eu apenas sabia da minha cidade... Não tinha nenhuma noção de como estavam as cidades vizinhas, quem dirá o resto do planeta.

E então eu acordei... E agradeci por ter sido só um pesadelo. Mas se fosse verdade, o que você faria? O que colocaria na bolsa? Quem você salvaria se tivesse de escolher? ...