De repente me via no meio de uma avenida, com muitos prédios de ambos os lados... E estava com duas pistolas em mãos (imbel calibre 40 gc) carregadas. Estava tudo vazio, como se as pessoas tivessem sumido e não sobrasse mais nada... A não ser uma pessoa, sim, havia uma pessoa no fim da avenida, estava bem longe, mas conseguir ver que era uma mulher. Ela estava com um macacão colado branco, com um cinto azul claro. Parecia roupa de espiã russa, com uma espingarda (spas 15 semi-automática calibre 12) apontando em algo na minha direção.
Quando olhei para mim mesma, vi que minha roupa era igual à dela, só as cores eram diferentes, meu macacão de espiã era preto e o cinto era vermelho... Só não continuei reparando em muitas coisas depois que a vi mirar em mim.
Não tive muito tempo para pensar no que fazer, só para rolar me esquivando do tiro. Eu já ia mirar nela... Até ficar paralisada... Ela não era uma mulher desconhecida, era eu mesma. Sem entender o que acontecia, tentei me esconder atrás da escada de entrada de um dos prédios... Eu precisava processar tudo aquilo antes de tomar uma atitude.
Por que aquilo estava acontecendo? Ou melhor, o que estava acontecendo? ... Eu não ia conseguir atirar em mim mesma, ou iria ? Pensei em todos os motivos possíveis para alguma parte minha querer matar algo em si própria... As respostas não chegavam, mas ela estava se aproximando, eu sentia isso.
Depois de tudo que aconteceu e do tanto que eu cresci, por que mais essa prova ? Eu não queria mais ser testada, muito menos por mim mesma. Apesar do medo e das incertezas eu sabia que não ia poder fugir ou conseguir me esconder pra sempre... Eu ia ter que enfrentar a mim mesma, sozinha. Sem inimigos e sem aliados, mas com minhas fraquezas ... E forças.
Pensei na arma que ela usava e na arma que eu usava, ela não conseguiria atirar na mesma velocidade e muito menos com a mesma facilidade... Estava com uma certa vantagem, a não ser o fato de ela atirar muito bem e eu não ser boa nisso. Me levantei rápido e fui de volta ao meio da avenida, porém não a vi. Rodei em torno de mim mesma, procurando por ela e com as pistolas preparadas, até ver ela escondida se preparando para o próximo tiro.
Estava cansando de desviar, até resolver mirar nela e começar a atirar. Não precisei sequer de esforço, nem sequer senti muita dificuldade... Logo vi o macacão branco se manchando de vermelho. Acho que a dificuldade não seria matar ela, a dificuldade seria me ver morrer... E pelas minhas próprias mãos.
Cai de joelhos do lado do corpo, soltei as armas... E não sei por que motivo comecei a chorar. A chuva começou a cair, e o corpo dela começou a sumir como ar... Só o sangue ficou, manchando a rua...
Acho que se foi eu que fiquei viva, mereci. Só a mais forte ficaria de pé, e senti como se uma parte fraca tivesse ido embora... Pra sempre. Às vezes precisamos fazer sacrifícios para conseguir seguir em frente. Eu fiz o meu, e você?